O Exorcista - 40 Anos Que Dão Medo

16:14 Alex Paes 0 Comentarios


  
Uma dedicatória bajuladora provocou o diretor William Friedkin: “Se você não dirigir este filme, ninguém mais o fará”. Foi assim que o escritor William Peter Blatty encaminhou um exemplar de seu livro, o recém-lançado O Exorcista, para o então vencedor do Oscar de melhor direção por Operação França. Embora não fosse sincera —Blatty já usara tal artifício para tentar sensibilizar Mike Nichols, Arthur Penn, John Boorman, Peter Bogdanovich e até Stanley Kubrick —, a dedicatória parece ter surtido efeito com Friedkin. 

No mesmo dia em que recebeu o livro, ele devorou as 340 páginas em poucas horas. E resolveu transformar a história da garota ReganMacNeill, interpretada no filme por Linda Blair, em um dos filmes mais assustadores de todos os tempos. “O Exorcista foi uma porrada. Espectadores desmaiavam, ficavam histéricos”, relembra o jornalista Peter Biskind, autor de Como a Geração Sexo-Drogas-E-Rock’n’Roll Salvou Hollywood (Intrínseca), “exibidores mantinham lixeiras à mão para socorrer quem não conseguia manter o jantar no estômago.” 




No ano em que O Exorcista completa quatro décadas desde que estreou na noite do dia 26 de dezembro de 1973, William Friedkin também publicou sua autobiografia, The Friedkin Connection (ainda inédita no Brasil). Nela, confirma sua fama de genioso, temperamental e explosivo. Entre outras, Friedkin gostava de se fingir de maluco só para afrontar os executivos, despedia os assistentes de manhã e os recontratava à tarde e tinha o hábito de jogar telefones na parede. 

Para extrair atuações convincentes de seus atores, ligava a câmera sem avisá-los e, em seguida, dava tiros de espingarda para o alto. Se isso não surtia efeito, chegava ao cúmulo de esbofeteá-los no rosto — não sem antes perguntar-lhes, gentilmente: “Você confia em mim, não confia?”. Não por acaso, ganhou o apelido de “Willy Maluco”. Mas, de louco, não tinha nada. Tanto que vetou as exibições-testes que a Warner planejara para O Exorcista. “Se tivessem feito, jamais teria estreado”, admite Friedkin. 

Ele tinha razão. Nunca antes um filme de terror havia sido tão explícito (e desagradável) quanto O Exorcista. O filme ganhou duas das dez estatuetas do Oscar (roteiro adaptado e som) que disputou, além de quatro Globos de Ouro, incluindo o de atriz coadjuvante, para Linda Blair, com 12 anos. “Tive a chance de revê-lo há dias e pude constatar que O Exorcista não envelheceu. Continua tão apavorante como há 40 anos”, destaca o cineasta capixaba Rodrigo Aragão, autor de Mangue Negro (2008) e Mar Negro (2013). 

Referência no gênero, O Exorcista inspirou uma infinidade de filmes, como Exorcismo Negro (1974), Stigmata (1999) e Invocação do Mal (2013). “Há influência de muitos filmes em Amor Só de Mãe. Se eu disser que O Exorcista não foi uma delas, estarei mentindo”, admite o cineasta gaúcho Dennison Ramalho, em alusão ao curta-metragem inspirado na canção “Coração Materno”, de Vicente Celestino. Das cenas mais assustadoras do filme, elege a aparição quase subliminar do demônio durante um pesadelo do Padre Karras (Jason Miller). “A imagem toma conta da tela por uma fração de segundo. São uns poucos fotogramas, mas, acredite, é aterrador”, garante. 

O filme não fascina apenas cineastas. Coordenador do Curso Básico de Parapsicologia da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Fábio Raniere Mendes afirma que alguns dos fenômenos paranormais retratados no filme, como levitação ou telecinesia (capacidade de fazer os objetos se moverem) podem ser explicados como fenômenos naturais, produzidos pela mente humana. “A levitação pode ocorrer quando alguém se encontra em profundo estado de alteração de consciência. Não tenho conhecimento de casos de levitação plena”, explica. 

Já o psicólogo Everton de Oliveira Maraldi, do Laboratório de Psicologia Anomalística e Processos Psicossociais (Inter Psi) da USP, esclarece que a possessão foi explicada de muitas maneiras, desde a neurose histérica até o que hoje se convencionou chamar de Transtorno Dissociativo de Identidade. Segundo ele, uma pessoa emocionalmente perturbada pode facilmente se masturbar com um crucifixo ou dizer obscenidades a uma autoridade religiosa. “Quanto ao surpreendente giro de 360 graus que Regan dá em sua própria cabeça, não só duvido que alguém tenha conseguido fazê-lo, como também acho pouco provável que tenha sobrevivido para contar a façanha”, ironiza.

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